Criada em 2021, após a tragédia de Brumadinho, a Frente Parlamentar da Mineração Sustentável (FPMin) busca virar a chave da mineração brasileira. À frente da iniciativa, o deputado Zé Silva (Solidariedade-MG) propõe um novo modelo que una desenvolvimento, responsabilidade ambiental e protagonismo na transição energética.
Em entrevista à coluna Ponto da Mineração, ele compartilha a origem da frente, avalia o papel do setor no Brasil e no mundo e faz um alerta: sem ciência, gestão e articulação política, o país continuará exportando riqueza e importando tecnologia.
ENTREVISTA — ZÉ SILVA
O que motivou a criação da Frente Parlamentar da Mineração Sustentável?
Somos um grupo de deputados e senadores que decidiu enfrentar um tema estratégico para o país e para a humanidade. Criamos a Frente após a tragédia de Brumadinho. Eu fui presidente da comissão externa que acompanhou todo o processo: o sofrimento das vítimas, as investigações, as falhas na legislação. Ali ficou claro que era preciso buscar outro caminho. Visitamos experiências internacionais no Canadá, na Austrália e também aqui no Brasil, e vimos que é possível fazer diferente. A mineração não precisa ser uma ameaça à vida ou ao meio ambiente. Ela pode ser uma saída para o desenvolvimento, para a geração de renda, qualidade de vida — desde que bem conduzida.
É possível conciliar mineração com desenvolvimento sustentável?
Sem dúvida. Sempre parto de dois pilares: ciência e gestão. Toda atividade humana tem impacto, mas com conhecimento técnico e boas práticas esses impactos podem ser mitigados e até revertidos. O problema não é a mineração em si, mas como ela é feita. Por isso, desde o início, a Frente defende o uso da ciência e a adoção de padrões rigorosos de governança como eixos centrais das nossas ações.
Qual é o papel da mineração na transição energética?
É um papel essencial e estratégico. O mundo precisa de energias limpas, equipamentos menos poluentes, tecnologias eficientes — tudo isso depende da mineração. Dos painéis solares aos veículos elétricos, dos fertilizantes para produzir alimentos aos sistemas de informação, tudo passa por minerais estratégicos. Se queremos combater a fome, reduzir emissões e crescer com responsabilidade, vamos precisar de mais mineração, não menos. Só que uma mineração diferente: transparente, moderna e com foco em sustentabilidade.
O Congresso Nacional reconhece essa importância?
Quando criamos a FPMin, há quase três anos, o setor estava fora da pauta do Congresso e do Estado brasileiro. Era um tema visto com desconfiança ou relegado a segundo plano. Hoje, a percepção mudou. Os parlamentares já entendem que estamos falando de uma atividade vital, que precisa ser discutida com seriedade e responsabilidade. A Frente contribuiu muito para isso. Fomos buscar dados, fizemos parcerias com instituições como ABPM, IBRAM, MINDE, universidades e centros de inovação. Hoje, conseguimos pautar o tema com mais embasamento e mais diálogo.
Como a FPMin tem atuado para fortalecer esse novo olhar sobre o setor?
Planejamento estratégico, articulação política e construção coletiva. Nós nos baseamos em estudos científicos, damos espaço para os diferentes atores — sociedade, setor produtivo, academia, órgãos ambientais — e buscamos gerar consensos em torno de boas práticas. Também temos cobrado mais investimento público em pesquisa mineral, fortalecimento institucional dos órgãos reguladores e modernização da legislação. A mineração precisa sair da bolha e ocupar o lugar que merece no debate nacional, com responsabilidade.
Como o senhor avalia o protagonismo do Pará, que recebe a COP este ano?
O Pará é uma das províncias mineradoras mais importantes do país e tem tudo para liderar esse novo ciclo de mineração sustentável. Receber a COP 30 coloca o estado e o Brasil sob os holofotes internacionais. É uma oportunidade única para mostrar que podemos ser protagonistas da economia verde, fornecendo os insumos da transição energética com responsabilidade ambiental, inclusão social e inovação.



