Do solo à mesa: como os agrominerais brasileiros podem revolucionar o agro

Do solo à mesa: como os agrominerais brasileiros podem revolucionar o agro

Remineralizadores e fertilizantes naturais ganham espaço na agricultura sustentável, fortalecem a economia local e reduzem a dependência de importações. Entenda como essa produção mineral pode transformar o campo — e a vida das pessoas — nesta entrevista com o presidente da ABREFEN, Frederico Bernardez
frederico bernarde
Presidente da ABREFEN, Frederico Bernardez explica como os remineralizadores de solo estão revolucionando a agricultura brasileira — com sustentabilidade, soberania e mais qualidade na mesa dos brasileiros (Foto: Divulgação)

Eles vêm das rochas, passam por um processo simples de moagem e voltam para o solo com um novo propósito: nutrir, recuperar e regenerar. Assim são os agrominerais, insumos minerais naturais usados como matéria-prima na produção dos remineralizadores de solo (REM) e dos fertilizantes naturais (FN) — aliados cada vez mais poderosos da agricultura brasileira.

Mas o que são, exatamente, esses insumos?
São minerais obtidos a partir de rochas moídas, ricos em macro e micronutrientes, que oferecem uma nutrição contínua e equilibrada ao solo. Diferente dos fertilizantes convencionais, que liberam todos os nutrientes de uma vez, os REM e FN atuam de forma gradual, ajudando a recuperar a fertilidade do solo, reter umidade e estimular a vida microbiana.

Para entender melhor o papel estratégico dessa produção mineral, a coluna Ponto da Mineração entrevistou Frederico Bernardez, presidente da ABREFEN (Associação Brasileira dos Produtores de Remineralizadores de Solo e Fertilizantes Naturais).

Como os agrominerais contribuem para uma agricultura mais sustentável?

Frederico Bernardez: Eles são naturais, sem aditivos químicos, e podem ser usados até mesmo na produção orgânica. Seu processo produtivo é de baixíssimo impacto ambiental — muitas vezes, inclusive, transformando passivos ambientais em ativos. Além disso, promovem a retenção de água no solo, ajudam na recomposição de áreas degradadas e têm papel importante no sequestro de carbono, graças a uma técnica chamada Intemperismo Aprimorado de Rochas (ERW), na qual o Brasil é líder mundial. Assim, tornam a agricultura mais regenerativa e aliada no combate às mudanças climáticas.

O Brasil tem potencial para a produção de REM e FN?

Tem — e muito! Existem áreas com potencial em quase todos os estados. Hoje, Minas Gerais, Goiás e São Paulo lideram a produção nacional, respondendo por quase 80% do total. Já são 78 produtos registrados, com muitos outros em estudo. Esse é um setor em franca expansão, com enorme potencial para gerar emprego, renda e reduzir nossa dependência externa.

E os pequenos produtores? Como são beneficiados?

De forma direta. Por serem insumos nacionais, muitas vezes produzidos localmente, os REM e FN são mais acessíveis que fertilizantes químicos importados. Podem ser aplicados em diversas culturas, são fáceis de manusear e ajudam tanto na nutrição da planta quanto na recuperação do solo. Além disso, reduzem custos com adubação convencional no longo prazo e aumentam a resiliência das lavouras em cenários de seca ou excesso de chuvas. Para o pequeno agricultor, isso significa autonomia, economia e segurança.

Esses produtos já são amplamente utilizados?

O uso tem crescido bastante. De 2019 a 2023, foram produzidas e comercializadas cerca de 9 milhões de toneladas desses insumos. Hoje, estima-se que cerca de 10% da área agrícola do país já utilize remineralizadores — com ótima taxa de reuso, o que comprova sua eficácia. Ainda assim, há desafios: precisamos de mais políticas públicas, linhas de crédito, apoio técnico, investimento em pesquisa e ações de divulgação. Muitos produtores ainda desconhecem o potencial dessa tecnologia.

Eles influenciam na qualidade dos alimentos?

Com certeza. Como as rochas usadas são ricas em diversos elementos, quase como uma “tabela periódica natural”, os alimentos produzidos em solos remineralizados tendem a ser mais nutritivos, saborosos e resistentes. Além disso, solos saudáveis produzem lavouras mais estáveis, o que aumenta a oferta de alimentos de qualidade para a população.

A mineração pode ser uma aliada da agricultura e da segurança alimentar?

Sem dúvida. A mineração é responsável pela origem de muitos insumos agrícolas. No caso dos REM e FN, ela se torna ainda mais estratégica: oferece soluções para agricultura regenerativa, fortalece a produção nacional e reduz a dependência de fertilizantes importados — uma questão crucial diante de crises geopolíticas recentes. Fortalecer essa cadeia produtiva significa menos vulnerabilidade, mais soberania e um agro mais resiliente e inovador.

Os remineralizadores podem ajudar o Brasil a ser menos dependente de importações?

Esse é um dos pontos mais importantes. Hoje, o Brasil importa mais de 80% dos fertilizantes químicos que consome, o que nos deixa à mercê do câmbio, da logística internacional e de crises externas. Com os REM e FN, essa dependência diminui drasticamente.

São insumos 100% brasileiros, que movimentam a economia local, geram empregos, fortalecem nossa soberania e tornam o país mais competitivo e preparado para o futuro. O Brasil tem tudo para liderar essa revolução verde — e mineral — no campo.

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